Este sem dúvidas tem sido na atualidade um dos temas mais polêmicos que vem sendo levantado entre os estudiosos da Igreja Cristã mundial, o qual tem causado discursos calorosos entre quem vê e quem não vê base Bíblica para a vocação e ordenação pastoral da mulher. Por este motivo, venho aqui expor minha compreensão teológica com embasamento na Bíblia defendendo o chamamento e a ordenação pastoral feminina.
Eu não irei fazer uma análise exegética dos textos porque não domino o grego. Contudo, quero observar que sendo o grego uma língua humana e de tradução complexa para outros idiomas, não podemos se ater a termos que não contém um significado totalmente compatível com o nosso português e que nem sempre são capazes de reproduzir o real sentido da palavra em questão.
O que tenho notado em comentários de teólogos ou leigos que não concordam com a ordenação pastoral da mulher - os denominados diferencialistas, é que eles se apegam a textos bíblicos fora de contextos, interpretam termos ao pé da letra e ainda ignoram textos indispensáveis para se compreender corretamente o tema.
Antes de mais nada, precisamos compreender o que significa e representa os dons vocacionais/ministeriais que Deus instituiu para sua igreja.
O que representa receber de DEUS o dom e a vocação pastoral?
Ser vocacionado ao pastorado significa que a pessoa é escolhida por DEUS para exercer um ofício, o qual tem um propósito específico. A missão do dom pastoral consiste em pastorear, orientar e cuidar das pessoas que se convertem a Cristo, passando a fazer parte da congregação/igreja local.
O principal erro de quem é contra a ordenação de mulheres para o exercício pastoral, é que se entende que o pastoreio é o que a pessoa é (ser), sendo que na verdade representa o que a pessoa é chamada para fazer (exercer).
Se Deus mesmo declara que não faz acepção de pessoas por causa do sexo, não podemos de forma alguma colocar gêneros nos dons vocacionais.
Lendo os evangelhos perceberemos que a vocação ministerial segue um processo que se inicia com o chamamento, depois vem o treinamento e finalmente a ordenação. Foi exatamente isso que Jesus fez na terra quando escolheu os doze Apóstolos para serem aqueles que desbravariam o evangelho após sua morte e ressurreição.
A parte que cabe hoje ao ser humano é orientar o vocacionado, testemunhando e participando desse processo até o ato da ordenação.
Defesa com embasamento bíblico para a ordenação pastoral da mulher
1) Quem escolhe a pessoa, vocaciona, dá o dom PASTORAL e ordena é DEUS/JESUS, não o homem
Jesus mesmo declarou que não foram os Apóstolos que o escolheram, mas o Mestre os escolheu.
Uma pergunta que precisamos fazer diante desses textos é:
Alguns dons ministeriais na Nova Aliança teriam sido dados exclusivamente para o sexo masculino?
Para alguns Teólogos sim, pois o próprio Jesus escolhera pessoalmente apenas homens para serem os precursores do ministério Apostólico e nenhuma mulher.
Já para outros, esse fato não seria um argumento plausível para ser usado como tese afim de excluir as mulheres do ministério pastoral.
Outro texto que confirma a ordenação pastoral feminina foi escrito por Paulo a Igreja de Efésios.
"E Ele [Deus] designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres." (Ef 4:11)
Verificando o contexto desde o verso 1 de Efésios 4, perceberemos que Paulo trata de vocação, de pessoas que foram escolhidas por DEUS para exercer um ou mais dons ministeriais no seio da igreja. Percebemos que em momento algum o contexto cita que o dom pastoral é exclusividade para o sexo masculino ou exclui a mulher de ser receptora desse dom. Muito pelo contrário, concordando com Atos 2:16-18, percebemos que a ordenança dos dons é igualitária para homens e mulheres.
2) Outro ponto a ser compreendido é identificar em que momento houve a ordenação ministerial para os doze apóstolos escolhidos por Jesus
"Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel:
3) As exigências para a mulher também são citadas para quem almeja ao episcopado
Um outro texto escrito na carta de Paulo a Timóteo, deixa claro que a mulher pode almejar o episcopado, ou seja, que pode exercer funções de liderança como bispa e diaconisa.
"1 Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja.
2 Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar,
3 Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado; não contencioso, não avarento;
4 Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia;
5 (Porque se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?)
6 Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.
7 Convém, também, que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta e no laço do diabo.
8 Da mesma sorte, os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância,
9 Guardando o mistério da fé, numa consciência pura;
10 E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis.
11 Da mesma sorte, AS MULHERES SEJAM HONESTAS, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo.
12 Os diáconos sejam maridos de uma mulher, e governem bem os seus filhos e as suas próprias casas.
13 Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus." (1ª Timóteo 3:1-13).
Quem é contra a ordenação da mulher observa apenas as exigências feitas aos homens, mas ignoram que o texto no versículo 11 também afirma que da mesma forma, ou seja, para os mesmos ofícios (bispado e diaconato), as mulheres devem ser honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo.
Se a mulher não pudesse exercer tais ofícios e os mesmos fossem exclusividade do homem, não precisaria ter nenhuma citação específica fazendo essas exigências ao sexo feminino aqui.
4) Exemplo de mulheres vocacionadas com dons ministeriais fazendo a obra na Nova Aliança
a) Em Atos vemos as quatro filhas de Felipe que tinham o dom de profetizar na igreja.
(Atos 21:8-9).
O estranho é que os críticos que são contrários a ordenação feminina até aceitam que a mulher possa profetizar, mas não aceitam que elas possam pastorear. O engraçado é que em Efésios 4, o verso 11 que cita o dom de profetizar, cita juntamente o dom de pastorear. Então não faz sentido aceitar a vocação de profetiza e rejeitar a vocação de pastora.
b) Paulo na sua carta aos Romanos saúda Andrônico e Júnias como sendo apóstolos. (Romanos 16:7)
Muitos críticos não aceitam que Júnias seria uma mulher, e interpretam que se tratava de um nome masculino. Já outros acreditam que era sim uma mulher vocacionada ao apostolado.
c) Paulo pede para que Evódia e Síntique tenham o mesmo sentimento no Senhor, e sejam auxiliadas/ajudadas pelos demais cooperadores na igreja de Filipos. (Filipenses 4:1-3) Paulo viajava e ao constatar o chamado de alguém. fazia o treinamento dos vocacionados e o ato da ordenação. Após a sua partida de Filipos, alguma divergência teológica estava ocorrendo entre elas, por isso Paulo pede para que os demais cooperadores as ajude na continuidade da obra local na igreja. Quem é auxiliada está em posição de liderança. Ou seja, elas não eram meras participantes ou simplesmente auxiliadoras na obra da igreja. Pela importância dada por Paulo, podemos crer sim que elas eram vocacionadas ao ministério pastoral, foram ordenadas e faziam a obra na igreja local iniciada juntamente com Paulo.
Textos e Argumentos contrários a ordenação feminina
Os argumentos e interpretações de textos que são usados por quem discordam com a ordenação da mulher, estão baseados na Antiga Aliança, além de textos fora de contexto. Também misturam a autoridade do homem sobre a mulher no lar, com a autoridade espiritual dos membros enquanto igreja; confundem situações problemáticas ocorridas em igrejas locais e fazem de conselhos dados uma doutrina generalizada.1) A mulher deve ficar calada na igreja
Possivelmente se tratava de alguma intrusão não autorizada de algum grupo de mulheres nos cultos da igreja e que causava problemas no culto. Observe que no verso 35 Paulo estabelece que as mulheres consultem, em casa, seu marido: “Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja.” (1ª Co 14. 35).
Paulo não deixa claro, por exemplo, sobre as que são solteiras e que não têm marido para consultar em casa, ou seja, não parecem estar incluídas nesse sermão de Paulo. Por isso, é bem mais provável que essa palavra seja para algum grupo específico de mulheres que estava causando desordem naquela igreja, e não uma ordem de Paulo que proíbe todas as mulheres em todas as épocas de falar qualquer coisa na igreja.
Colabora com esse pensamento o fato de Paulo ter falado em 1ª Coríntios 11. 5 que “Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a cabeça sem véu desonra a sua própria cabeça, porque é como se a tivesse rapada.”.
Observe que nesse texto não existe a proibição da mulher falar. Inclusive relata mulheres que oravam e profetizavam em público. Ao que parece essas práticas de oração e pregação da palavra eram feitas nos cultos ou em reuniões da igreja, o que incluía a participação das mulheres de alguma forma. Esse fato fortalece ainda mais a ideia de Paulo estar tratando um problema pontual da igreja de Corinto. Portanto, não se pode fazer deste conselho uma doutrina que impeça a mulher exercer o dom pastoral.
2) Deus deu funções distintas para homem e a mulher no jardim do Éden
Apesar da premissa ser verdadeira, tal tese não serve para proibir a mulher de receber e exercer o dom pastoral.
Devido a queda, a mulher que foi enganada pela serpente, recebeu um castigo que seria a dor de parto e que seria governada pelo homem.
E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará. (Gênesis 3:16)
O grande problema em usar esse texto como base para explicar que o dom pastoral é exclusivo para o homem, é que ele está tratando da relação entre o casal e não de dons ministeriais na igreja.
Contudo, ainda há outro texto em que Paulo diz não permitir que a mulher ensine nem exerça autoridade de homem, cita a ordem da criação de Adão e Eva, e alega que Adão não fora iludido, mas a mulher sim.
Diante do texto acima temos que saber fazer a distinção entre o que é a relação entre homem e mulher como casal no lar e a relação eclesiástica dos membros no corpo de Cristo.
Quando Paulo escreve que não permite que a mulher ensine, podemos entender de duas formas: 1) que isso é uma doutrina cristã para todas as mulheres em todos os tempos ou 2) que é um conselho dado por causa de algumas mulheres que viviam um tipo de situação problemática recorrente na igreja local.
Entender que a mulher deve ficar totalmente calada na igreja se trata de uma doutrina universal seria controverso, pois como já vimos existem diversos outros textos bíblicos que a autoriza falar. Então, a segunda opção é mais plausível de ser defendida.
O mais provável é que algumas mulheres advindas de outras religiões estariam tentando se auto colocar para alguma função de liderança, querendo tomar a palavra em determinado momento e de uma maneira indevida. Como a igreja era nova, dificilmente já teria alguma mulher vocacionada, treinada e ordenada para o exercício de dons ministeriais. Pelo que podemos entender, Paulo aconselha Timóteo, que foi um dos primeiros a ser vocacionado e ordenado para o serviço local.
Já quando Paulo cita que a mulher não deve exercer autoridade de homem, fica claro que essa autoridade é referente a relação do casal no lar, por isso ele contextualiza com os fatos da ordem da Criação e da queda registrada em Gênesis 2:9-16.
Se colocarmos o homem como tendo uma autoridade superior no corpo de Cristo, entra em contradição com diversos textos que defendem que homem e mulher estão em igualdade como membros do mesmo corpo. Portanto, na relação do casal a esposa deve ser submissa ao marido, conforme já tinha aconselhado em Efésios 5:22.
3) A mulher deve ser submissa, pois o homem é o cabeça da mulher
Apesar dessa afirmativa ser verdade, ela é usada pelos diferencialistas de modo equivocado.
O texto em questão trata da relação do casal no lar, não da ordenação ministerial pastoral.
Paulo escreve e explica nesse texto:
4) Jesus chamou apenas homens para o Apostolado
Esse é mais um dos diversos argumentos usados para proibir a mulher de exercer o dom pastoral.
Mas será que a ausência de uma mulher entre os doze teria realmente essa razão?
Eu acredito que não.
Esse argumento é bastante falho se levarmos em consideração que Jesus veio ao mundo no tempo em que ainda vigorava a Lei de Moisés e o ministério Levítico - quando as algumas funções sacerdotais eram dadas exclusivamente aos homens.
Para entender porque Jesus escolheu apenas homens para o seguir durante 3 anos de treinamento e nenhuma mulher, precisamos estudar um pouco da cultura e das leis Judaicas.
Para isso basta compreendermos um pouco das funções e obrigações que a mulher tinha segundo a Lei. No dias da sua menstruação por exempllo, as mulheres tinham que cumprir vários rituais de purificação e ficavam praticamente recruzas em locais fechados. Levíticos 15: 19:30
Imaginemos se Jesus escolhesse alguma mulher e tivesse que aguardar ela cumprir todos os rituais de purificação. Imagina quanto tempo isso não iria levar atrapalhando o treinamento dos Apóstolos.
Seria bem visto pela sociedade e os líderes religiosos da época se Jesus tivesse escolhido uma ou mais mulheres para juntamente com outros homens serem treinados por Ele dia e noite?
Se a resposta for não, então está resolvido o dilema do por que Jesus não escolheu nenhuma mulher para o apostolado naquela ocasião.
Obviamente se Jesus chamasse uma mulher para um árduo treinamento de três anos, não seria algo bem visto pelos líderes religiosos daquele tempo e nem pela sociedade de modo geral.
Então, o fato do Mestre não ter escolhido nenhuma mulher para integrar os doze, não é porque elas estariam impedidas de receber dons ministeriais na Nova Aliança, mas por que naquele momento não seria prudente escolhê-las para estar com Ele e os demais discípulos viajando dia e noite.
Conclusão
Conforme pudemos discorrer nos textos e contextos, entender corretamente essa questão passa por uma melhor interpretação. Mesmo após essa leitura quem ainda se posicionar contrário a ordenação pastoral da mulher, o fará não mais por falta embasamento da palavra de DEUS, mas sim por motivos pessoais.
Diante das milhares de mulheres que a muitos séculos exercem seus dons ministeriais, inclusive o pastoral, não podemos ignorar que DEUS as tem chamado, vocacionado, ordenado e usado de forma sobrenatural e milhares de almas tem sido acrescentadas ao reino. Negar esse fato seria uma enorme insensatez.
Deus nos abençoe.
Ney F. S. Silva
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